domingo, 24 de janeiro de 2010

Desvendando o mito da caverna ou sessão platônica de descarrego. Amém!

Papo interno, so sorry, meus (poucos) leitores.





Quando eu ainda vivia nos sonhos, ela me foi apresentada.

Agora, de dentro da caverna, ela me liga pra contar das sombras que vê em sua parede. Parede agitada, cheia de sonhos, sombras e escombros. Escombros que ainda estão sendo revolvidos, pedaço por pedaço. E de ligação em ligação, de mensagem em mensagem, com as pedras retiradas, acho que vão mesmo é construir um castelo. Lindo, cheio de janelas, com vista para o mundo.
Aí sim ela (e ele) estarão prontos para ver que as sombras, ah... as sombras eram só SOMBRAS. E que o mundo de verdade, como ele é, com (por que não?) sombras, medos, inseguranças, premonições e tudo mais, é, em última instância, SÓ o mundo. E que só depende da gente (deles dois) sair da caverna para encarar seus medos. Vencer seus medos. E, enfim, de dentro do castelo (da caverna não mais), fazer ecoar aos quatro cantos a mais linda marchinha de carnaval (que ela tanto gosta!). E viverão felizes para sempre. Juntos ou separados. Porque cada um tem o castelo (ou a caverna) que merece.

***

Te amo, amiga! Sai da caverna e vai lá fora erguer o seu castelo!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Hable con ella


Depois de ter hablado con ella, depois da conversa profético-salvadora, resolvi ir pegar um filminho. Deveres acadêmicos à parte, fui hablar com mais um do Almodóvar, e descobri, mais uma vez, que eu tenho andando por lugares errados. Citando Borges, "o jardim de veredas que se bifurcam" está me confundindo e eu, tolinha, sei lá pra onde estava indo!

Fato foi que eu peguei, adivinha, Fale com ela. Dia desses tinha assistido Volver e achei o máximo! Adorei as cores, o exagero, o roteiro... Achei tudo muito de gente, sabe, sem o "you know, maaaaaaan", ai que saco, de Hollywood.

Fale com ela é O FILME! E o Tim Burton, rei dos exageros, que eu amooo, desculpa, está cedendo lugar ao Almodóvar. Se achei o Volver família, coisa de gente, Fale com ela achei divinamente gente. Psicologicamente perfeito, humanamente falho, com escrúpulos de gente normal. E a relevância que ele dá à mulher, cá entre nós, é muito excelente! Hable con ella, mais que imperativo... é uma necessidade que permeia todo o espaço do filme. É tudo delicadamente exagerado, como nós, mulheres.

No dia que eu for dona de uma escola, vou dividir as turmas de Ensino Médio em meninos e meninas, e fazer uma sessão de cinema bastante educativa: Fale com ela, filme de Mulher, independente do sexo, para os meninos; Clube da luta, filme de Homem, independente do sexo, pras meninas. Independente do sexo, acho que é um bom método de formar Homens e Mulheres. Com maiúscula!


Mãe é mãe

Sabe aquilo que se dizia para o guarda Abel da novela da Índia? "Beba, beba, beba, beba, beba, beba!"...? Teve gente aqui em casa ontem que baixou a Norminha e ficou praticando o "beba, beba". A encorporada, no caso, foi a minha mãe, que ontem estava com a macaca! Tão emacacada que até profetizou umas coisas aí, que não convém que eu diga por aqui, claro. Mas que ela está merecendo uma homenagem... verdade seja dita!
Tudo porque eu estava lá, deitadona, 3 horas da tarde das férias, largada na bagunça do meu quarto, com cara de enterro. Daí ela veio, começou a falar coisas que estavam na minha cabeça (morri de medo!), mas com um olhar que eu, na minha soberba ignorância, jamais teria pensado.

Mãe é mãe. Quero ser como ela um dia. Passar do luxo ao lixo num passe de mágica, com a mesma mágica que ela usa pra ler pensamentos. E depois de profetizar, HALLELUIA! Eu fiquei um pouquinho mais parecida com ela.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Em primeira pessoa

Aqui, no nosso Haiti, morros desmoronam, vidas escorrem por água abaixo.
Por aqui, reclamamos do governo, do calor, do trabalho, da vida.
Mas só nos lembramos de que o Haiti
é aqui
quando vemos que, de fato,
ele não é aqui.
O espelho vizinho reflete nossos pequenos deslizes.
E na tormenta alheia vemos
que temos que rezar pelo Haiti.
Mas se nem mesmo pelo nosso Haiti rezamos
se preferimos esperar pela quarta-feira de Cinzas
se as águas de março deixam
promessas de vida no coração
por que não esperar
O terremoto passar?
A chuva cair?
A favela descer?
O bloco passar?

O Haiti é aqui.
O Haiti não é aqui.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Fluxo de pensamento

Hoje, conversando com uma amiga florzinha, pensei que nós somos uns trastes. Pelo menos. Porque chamar de paradoxais pessoas que vivem exigindo a perfeição, mas que adoram o imperfeito é, no mínimo, doido. E se achar certo, sendo doido, é ser traste. Compreendeu?
Acho mesmo é que se gosta do imperfeito pra ter do que se reclamar, pra buscar o que melhorar.
Uma vez conversei com um barbudinho que me disse que a gente espelha no outro os defeitos que não enxergamos em nós. Fez sentido por cinco minutos, mas essa frase-verdade de vez em quando volta, sabe? E incomoda.
Outro dia escrevi que gostei quando, no filme, a moça disse que as pessoas são como espelhos: vemos nelas aquilo que não gostaríamos de ser.
Tem espelho demais em minha volta. Estou com medo de, de tanto ser eu mesma, começar a me ver nos outros. E enjoar de mim nos outros. Ou enjoar os outros de mim. Melhor esfriar a cabeça.

Brilho eterno...



Nunca pensei que iria tirar tanto proveito das minhas férias mais ou menos.


Ontem, 7 da noite. Vamos fazer o quê? Baixar Lost? Não... demora muito. Ah, já sei: vamos pegar alguma coisa na locadora. Brilho eterno de uma mente sem lembranças.
(O meu senso de sanidade pensou já ter visto esse filme, mas NÃO, isso ainda NÃO tinha sido feito.)
O moço da locadora: "E aí, é a primeira vez ou vão assistir de novo?"
(Como assim???)
"Vocês não vão se arrepender. O filme é maneiro, mas tem que prestar atenção, se não vai parecer que ele é meio maluco, sem noção. Mas é muito bom."
(Então tá.)
***
Onde é que eu estava que ainda não tinha assistido? Brilho eterno é tão bom que eu nem me atrevo a tecer qualquer comentário sobre ele. Tenho medo de estragar sua beleza, sua complexidade, seu clima, sabe?
Caso você, querido/ querida, esteja cometendo o crime do qual, até ontem à noite, eu era bandida, não mais padeça desse mal. Por favor.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Rapidinha

"Sei que amores imperfeitos são as flores da estação"


Pensei no Skank agora, bem a calhar. Flores colhidas, compromisso selado. Sempre achei o pretérito imperfeito mais emocionante que o perfeito, sabe? Padeço desse mal, fazer o quê?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Canção para o seu regresso

Regresso

(Campo perdido.
músicas suspirando,
ai! sem meu ouvido!)

Bois esperam, mirando:
corpo cheio de céus, luas
nos olhos recordativos.

Rodas, charruas,
sol, abelhas...
Colar de prata dos rios
sobre gargantas vermelhas.

(Eu andava batalhando
- ai! como andei batalhando -
com mortos e vivos,
campo!)

Levai-me a esses longes verdes,
cavalos do vento!
Pois o tempo está chorando
por não ver colhido
meu contentamento!

***

Cecília Meireles - Vaga música

***

Lula, o filho do Brasil

Cansei de ouvir minha mãe dizer: "Seu pai? No cinema? A última vez que fomos nós ainda éramos namorados!". E meu pai, retrucando: "pfpfpfpfpfpf! O último filme que vi foi "E o vento levou". Metade, porque eu dormi o filme quase todo!"

Dispensa comentários.

Ontem algo estranho aconteceu. No marasmo de depois do almoço, meu pai:
- Vamos mais tarde ao cinema, ver o filme do Lula?

TODOS toparam. Não, isso não é um conto, é verdade. Foi verdade, verdadeiríssima. E eu, é claro, fui, feliz da vida, à sessão familiar.

Não tecerei comentário algum sobre o filme porque minha mãe sempre me ensinou que o que se diz em casa fica dentro de casa. Como você não estava lá com a gente, não vou contar. Só adianto que, pra quem gosta do Lula, o filme é muito bom. Pra quem não bebe e não gosta do Lula, vai dizer: "Ah, mas o presidente é um bêbado". Claro, a Brahma superpatrocinou o longa. Pra quem gosta de megaproduções, também não será bom negócio. Mas praqueles que gostam da parte, digamos, alternativa do Brasil e que reconhecem no Luis Inácio uma figura histórica, sem igual, vale. Vale muito.

Estou quase sugerindo um golpe de Estado, pro Lula ter mais um mandato. Mas aí eu acho que a coisa ficaria feia...


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Memória

"A memória é uma paisagem contemplada de um comboio em movimento. Vemos crescer por sobre as acácias a luz da madrugada, as aves debicando a manhã, como a um fruto. Vemos, além, um rio sereno e o arvoredo que o abraça. Vemos o gado pastando lento, um casal que corre de mãos dadas, meninos dançando o futebol, a bola brilhando ao sol (um outro sol). Vemos os lagos plácidos onde nadam os patos, os rios de águas pesadas onde os elefantes matam a sede. São coisas que ocorrem diante dos nossos olhos, sabemos que são reais, mas estão longe, não as podemos tocar. Algumas estão já tão longe, e o comboio avança tão veloz, que não temos a certeza de que realmente aconteceram. Talvez as tenhamos sonhado. Já me falha a memória, dizemos, e foi apenas o céu que escureceu."

Agualusa, O vendedor de passados.

***

Gostaria de tê-la sonhado, mas não: foi real. Então eu fico na espera de que o céu
escureça
acenda
escureça
acenda
...
Até que eu não possa mais nela tocar.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Conhecimentos gerais, a quem interessar possa:

Aquela amiga que me acompanha desde o útero materno sempre diz que eu sou pessoa mais canceriana deste mundo. Sábias palavras, meu amor!

A mulher de câncer

Ela é um pouquinho doida, ligeiramente triste e soberbamente imaginosa. E sabe também como economizar dinheiro. Para desviar seus pensamentos de seguro, hipotecas, renda e contas, carrega-a para dar um passeio à meia noite, na praia, ao luar. É quando ela estará melhor. A lua fará surgir todos os seus sonhos secretos, e a proximidade da água poderá libertar suas muitas inibições. Mas não vá encorajar este amor a menos que tenha mesmo a intenção de ir até o final. Os sentimentos de uma mulher de Câncer nada têm de superficiais. Quando ela se apossa de um homem ou de uma xícara de chá, é dela para sempre. Ela tem medo de não ser bastante bonita, bastante inteligente, bastante jovem ou bastante velha. É muito sensível, chora um bocado, e é bom você ter sempre um lenço à mão. Ela odeia ser criticada, fica profundamente magoada com o ridículo, e não suporta ser repelida. O humor da canceriana também não reage muito bem a piadas de sogra; lembre-se, ela adora a mãe. Quando ela estiver deprimida, você tem que dar um jeito de arrancá-la de si mesma. Procure pegá-la antes que tenha afundado demais. Você nunca terá certeza se ela está à beira da depressão ou se apenas quer ser mimada. Na dúvida, confesse que você não pode viver sem ela e as coisas tenderão a melhorar.

Citando Patrícia: "Volta pro mar, oferenda!"



Um beijo roubado


Não pensem que o título deste post foi o que eu fiz no primeiro dia do ano. Não, não. Foi o que eu assisti. Um amigo me emprestou o DVD há séculos e só agora, de férias (ou sei lá porque) assisti ao filme. Lindo, um arraso. A fotografia combina total com o clima do filme, o Jude Law lindo de morrer e a Norah Jones, juro que não sabia dessa, causando de atriz. O filme é lento, quase silencioso que dá agonia, com a maioria das músicas cantadas pela Jones (que causa MUITO de cantora, nossa!). Perfeitas as cenas das blueberry nights, todas, especialmente as de close. Sentimento metamorfoseado em torta, delícia. Perfeita a frase mais ou menos assim: nós precisamos dos outros para serem espelhos. cada vez que vejo alguém descubro defeitos e qualidades em mim. cada vez me orgulho mais de ser eu mesma.

***

Vou devolver o DVD com um bilhetinho pedindo desculpas pela demora e com esse mesmo highlight daí de cima.